FUNDAMENTO As diretrizes de insuficiência cardíaca recomendam a titulação dos inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA)/bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA), dos betabloqueadores e dos antagonistas do receptor mineralocorticoide (ARM) para as doses utilizadas nos ensaios clínicos randomizados. No entanto, estas doses recomendadas com frequência não são alcançadas. Porém, esse aumento da dose pode não ser necessário em todos os pacientes.
OBJETIVOS Este estudo procurou estabelecer o papel dos biomarcadores sanguíneos em determinar em quais pacientes a titulação deve ser realizada.
MÉTODOS Os resultados clínicos de 2.516 pacientes com agravamento da insuficiência cardíaca do estudo BIOSTATCHF (BIOlogy Study to Tailored Treatment in Chronic Heart Failure) foram comparados entre três cenários teóricos de tratamento: cenário A, no qual se aumentou a dose dos pacientes em >50% das doses recomendadas; cenário B, no qual a dose foi aumentada de acordo com o modelo de seleção de tratamento orientado por biomarcadores; e cenário C, no qual não se aumentou a dose de nenhum paciente em >50% das doses recomendadas. Para todos os três cenários, foi realizada uma regressão de Cox multivariável utilizando 161 biomarcadores e sua interação com o tratamento, ponderado pelo viés de indicação de tratamento para estimar o número expectável de mortes ou hospitalizações por agudização de insuficiência cardíaca em 24 meses.
RESULTADOS As taxas de morte ou hospitalização estimadas em 1.802 pacientes com (bio)marcadores disponíveis foram de 16%, 16% e 26% respectivamente, nos cenários A, B e C de titulação da dose dos inibidores ECA/BRA. Foram obtidas taxas semelhantes para a titulação dos betabloqueadores e dos ARM nos cenários A, B e C, de 23%, 19% e 24%; e 12%, 11% e 24% respectivamente. Se a titulação fosse bem-sucedida em todos os pacientes, poderiam ser prevenidos aos 24 meses 9,8, 1,3 e 12,3 eventos estimados por cada 100 pacientes tratados através da terapia com inibidores ECA/BRA, betabloqueadores e ARM, respectivamente. Foram obtidos números semelhantes de 9,9, 4,7 e 13,1 se as opções de titulação do tratamento fossem orientadas por modelos de seleção de tratamentos tendo por base biomarcadores.
CONCLUSÕES O aumento da dose nos pacientes com insuficiência cardíaca, tendo como base valores de biomarcadores, pode ter resultado em menor número de mortes ou hospitalizações em comparação com o cenário hipotético no qual todos os pacientes sofreram aumento de dose bem-sucedido.